segunda-feira, 14 de março de 2011

Todo Varginhense é bicha!

Foto: Parada Gay - São Paulo-SP
Advertência: os personagens desta crônica são reais apenas no universo da ficção, não emitem opinião sobre pessoas ou sobre o mundo real.
Ao jornalista Tarso de Castro, que tinha um pacto com a vida, e não se importava se ela não cumpria a parte dela.

Todo varginhense, seja homem ou mulher, é bicha.

Silvio Brito é bicha, o prefeito Corujinha é bicha e Jorge, o editor do jornal Tribuna Varginhense, é bicha também. Karina Braga Baroni Carvalho, primeira dama municipal, e Romana Serenini, são bicharocas. Acayaba é o nome de uma tradicional família varginhense de juristas bichas, e a FADIVA talvez seja a primeira faculdade homoerótica de direito do Brasil. Os barões do café varginhenses são bichas que fornicam nas plantações desde os tempos do Império. Jamaica e Tereza Zambotti são bichas. Os freqüentadores do Pinga com Torresmo são bichas e, no Help Pub, dezenas de jovens bichas fazem fila todos os finais de semana para olhar a bunda uns dos outros enquanto não conseguem entrar. O E.T de Varginha é uma bicha intergaláctica, os organizadores do Festival de Cinema da cidade são bichas e o Café da Fonte é freqüentado por bichas que se consideram parte da alta sociedade varginhense. Nos pontos de ônibus da cidade centenas de bichas esperam pela condução todos os dias. Dimas, Poliana e Diogo Magalhães, da Banda Arkanjos, são uma família de músicos bichas. Ai que saudades eu sinto de tomar uns porres com Ivanei Salgado, jornalista varginhense bicha que se mudou para Itajubá. Sua filha Beatriz, ainda no berço, já é bicha. Ele, o Tuatha de Dannan e Betão da banda MR. Zé são bichas roqueiras. Os jogadores do BOA são bichas e os frequentadores do VTC e do Clube Campestre também. Carlos Roberto Bernardes, subinspetor da Guarda Municipal, e seus soldados, são bichas de uniforme azul que zelam por nós. O agitador cultural Michel é uma bichona desvairada. A Câmara dos Vereadores é composta por 11 bichas enrustidas. O radialista Raimundo é uma bicha folclórica e a colunista social Thayane Viana de Carvalho é a nova bicha do jornalismo impresso regional. Padre Sebastião Abreu Salgado é uma bicha devota e Mariangela Calil é a bicha que dá nome à concha acústica da Praça da Fonte. Você, desocupado leitor, é uma bichona histérica.

A Kátia da zona é a única heterossexual da cidade.

Bichas são sensíveis, acenam ao máximo nas despedidas e são espontâneas. Falam sobre sexo sem culpa e dançam com os braços erguidos porque tiveram que reinventar a sexualidade e os princípios apesar da caretice dos preconceitos. Viver apesar dos preconceitos é um exercício diário de leveza, requer a sabedoria de recusar o ressentimento e levar consigo apenas o essencial.

E Varginha parece ter entendido essa lição. Para se estabelecer como um dos principais centros do Estado mineiro, além de investir em crescimento econômico a cidade se movimenta a passos largos em direção à civilização, libertando-se dos condicionamentos culturais. Varginha é uma das primeiras cidades mineiras a promover sua Parada Gay, que acontece em setembro.

Um evento assim só ganha espaço onde a sociedade compreende que ser chamado de bicha não é um insulto, é antes um elogio à tolerância e à igualdade, num mundo cercado por subjetividades coaguladas em tradicionalismos arcaicos que costumam morrer no ressentimento. Sexo não tem sexo, e o amor também não. Somos todos diferentes e merecemos oportunidades iguais.

Todo varginhense que ama a sua cidade e deseja que ela seja uma referência social para Minas Gerais, seja homem ou mulher, é bicha!